dessas descobertas vegetarianas: Adriana Calcanhotto e Clint...
:)
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
sobre O Ensaio... e a chuva
terça-feira, 25 de novembro de 2008
O garoto dos óculos escuros
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
O menino deprimido
domingo, 23 de novembro de 2008
As cidades e os olhos
para Calvino
Quem se aproxima dessa cidade durante o dia, logo é induzido a se perguntar quanto às exaltações da noite, desenhadas nas janelas fechadas, no silêncio, no segredo e no sossego dos resquícios derramados nos caminhos agora claros.
Gilberta não é uma cidade dos pecados. Mas uma cidade onde o dia finda a vida e a noite atrai e dissimula os habitantes que preferem sonhar enquanto o sol aquece seus telhados, para que não sintam falta de serem eles mesmos, de inscrever os sentidos uns nos olhos no corpo no quintal do outro.
As janelas vão se abrindo à medida que o ar perde o brilho e o sentido implora olhares. Jogos de sedução acontecem num mergulho dentro de cada habitante: as crianças se completam na infância da noite, procurando as estações nos olhos dos cães, descobrindo a gravidade do mundo disfarçada de encantamento. As famílias atravessam a ponte, conversam alto e trocam ardores apreendendo a folia prestes a transbordar pelos poros da pele.
A noite é como uma promessa solene de viver para algo. A noite para os moradores de Gilberta é sempre mais, é um pouco mais outra coisa. Os olhos deixam de julgar e de saber para que a intenção do interior guie ao que não se pode ver, ao que pode tanto ser música quanto elegia, tanto brinquedo quanto revelia.
Antes do amanhecer, quando voltam pra casa e procuram-se no espelho, percebem-se preenchidos. A maquiagem borrada, os odores baralhados, as roupas sujas e faltando dão a certeza dos encontros, a condição para mais um dia de sono, o alento para a próxima noite de existência.
Quem se aproxima dessa cidade durante o dia, logo é induzido a se perguntar quanto às exaltações da noite, desenhadas nas janelas fechadas, no silêncio, no segredo e no sossego dos resquícios derramados nos caminhos agora claros.
Gilberta não é uma cidade dos pecados. Mas uma cidade onde o dia finda a vida e a noite atrai e dissimula os habitantes que preferem sonhar enquanto o sol aquece seus telhados, para que não sintam falta de serem eles mesmos, de inscrever os sentidos uns nos olhos no corpo no quintal do outro.
As janelas vão se abrindo à medida que o ar perde o brilho e o sentido implora olhares. Jogos de sedução acontecem num mergulho dentro de cada habitante: as crianças se completam na infância da noite, procurando as estações nos olhos dos cães, descobrindo a gravidade do mundo disfarçada de encantamento. As famílias atravessam a ponte, conversam alto e trocam ardores apreendendo a folia prestes a transbordar pelos poros da pele.
A noite é como uma promessa solene de viver para algo. A noite para os moradores de Gilberta é sempre mais, é um pouco mais outra coisa. Os olhos deixam de julgar e de saber para que a intenção do interior guie ao que não se pode ver, ao que pode tanto ser música quanto elegia, tanto brinquedo quanto revelia.
Antes do amanhecer, quando voltam pra casa e procuram-se no espelho, percebem-se preenchidos. A maquiagem borrada, os odores baralhados, as roupas sujas e faltando dão a certeza dos encontros, a condição para mais um dia de sono, o alento para a próxima noite de existência.
Noticiário
Falam no jornal sobre uns assassinatos coisas que logo são esquecidas é óbvio e sempre assim. Não ele nem ligava pro noticiário mas gostava de ver a boca da moça falando mexendo falando o nome dele por que não, chamando pra perto pra jantar e pra outras coisas falando... Desligou pegou uma cerveja tirou o tênis sentou no chão e ficou pensando na morte. Saiu de casa olhou para a vizinha pegou o ônibus comprou cigarro molho de tomate graxa de sapato. Andou pensando bosta de vista por que eu não ganho na loteria? Jogou no bicho voltou pra casa tomou banho.
Ligou pra filha brigou com ela mandou estudar para não ser burro e sozinho como ele. Lembrou da infância, ligou a televisão esperando a previsão do tempo. Falaram frente fria pensou nos mendigos teve pena.
Comeu macarrão fumando balançando as pernas pensando em mulher.
Sossegou, pensou nas dívidas, esqueceu-as, dormiu, sonhou com insetos, acordou comeu macarrão no café saiu pra procurar emprego ficou com raiva saiu correndo foi atropelado. Apareceu na tevê.
Ligou pra filha brigou com ela mandou estudar para não ser burro e sozinho como ele. Lembrou da infância, ligou a televisão esperando a previsão do tempo. Falaram frente fria pensou nos mendigos teve pena.
Comeu macarrão fumando balançando as pernas pensando em mulher.
Sossegou, pensou nas dívidas, esqueceu-as, dormiu, sonhou com insetos, acordou comeu macarrão no café saiu pra procurar emprego ficou com raiva saiu correndo foi atropelado. Apareceu na tevê.
domingo, 16 de novembro de 2008
Gerações
Era algo constante nas manhãs de terça-feira o seu bichinho de pelúcia preferido acordá-la num processo de quase estrangulamento. Sempre despertava a tempo de tirar as patas do bicho do seu pescoço e trancá-lo dentro do armário junto com seus outros bichinhos de que gostava menos. Uma hora depois, quando ele já tinha se acalmado, ela o tirava com esforço de lá e o punha novamente em cima de sua cama. Nunca conseguiu entender qual era a desse bichinho, mas com ele aprendera a respeitar as diversas formas de vida e de temperamento, então tudo bem, ela compreendia a importância.
Se ela via televisão com ele principalmente nas quintas-feiras, ele logo dormia. Talvez fosse justamente na quinta que ele tivesse os sonhos mais perturbados e por isso precisasse dormir mais durante o dia. Era só uma suposição na cabeça dela, já que por mais que tentasse não conseguia saber o que aquele olhar queria tanto dizer. Pensava em inventar um tradutor, um decodificador, um neutralizador, um liquidificador e outras coisas que só uma criança com um bichinho de pelúcia é capaz de pensar.
Certo dia ganhou uma bicicleta. Achou mais divertido que o bichinho de pelúcia e o guardou para sempre junto com os outros de que gostava menos. A bicicleta era o sinônimo de sua liberdade infantil, sua conquista secreta do mundo e das coisas. A bicicleta vermelha não era muito de conversar, mas às vezes percebia que ela tentava puxar assunto e então conversavam sobre a qualidade do asfalto, das lajotas, do barro e da dificuldade de andar na grama. Os assuntos da bicicleta eram só esses. Talvez nunca tivesse olhado para o céu, visto um passarinho ou um relâmpago. Talvez não tivesse nem pegado chuva.
Mais ou menos um ano depois ganhou um computador. Depois disso não conseguiu mais entender como algum dia pudera gostar de um bichinho de pelúcia estrangulador ou de uma bicicleta vermelha entediada. Com a internet ela podia conversar com todos os bichinhos de pelúcia e bicicletas do mundo, não havia limites, podia até ser criança pra sempre se quisesse. Então passou anos fixada nesse outro mundo, compenetrada, maravilhada, desencantada, feliz, triste, excitada, tudo podia acontecer agora. E ainda por cima ao mesmo tempo porque ela aprendeu a fazer muitas coisas juntas. Com o tempo, essa falta de definição fez com que esquecesse os dias da semana. Não se lembrava mais das manhãs de terça-feira ou dos domingos chuvosos. Não fazia diferença porque no computador era sempre o dia, o tempo, o clima que ela quisesse.
Foi basicamente isso que aconteceu. O bichinho e a bicicleta foram doados nessas campanhas do brinquedo, o bichinho deve ter descontado sua ira e estrangulado outras crianças, a bicicleta talvez tenha tido tempo de olhar para o céu e ter tido uma vida um pouco mais poética, enquanto a menina estrangulava e entediava a si mesma à medida que não percebia a passagem do tempo, da vida, do ciclo todo.
Talvez tenha morrido em frente ao computador. Ou tenha conhecido alguém na internet e tido filhos de verdade ou virtuais mesmo. Talvez tenha até ido ao enterro de sua avó por e-mail e comido os biscoitinhos do velório por transferência de arquivo. Não se sabe.
Se ela via televisão com ele principalmente nas quintas-feiras, ele logo dormia. Talvez fosse justamente na quinta que ele tivesse os sonhos mais perturbados e por isso precisasse dormir mais durante o dia. Era só uma suposição na cabeça dela, já que por mais que tentasse não conseguia saber o que aquele olhar queria tanto dizer. Pensava em inventar um tradutor, um decodificador, um neutralizador, um liquidificador e outras coisas que só uma criança com um bichinho de pelúcia é capaz de pensar.
Certo dia ganhou uma bicicleta. Achou mais divertido que o bichinho de pelúcia e o guardou para sempre junto com os outros de que gostava menos. A bicicleta era o sinônimo de sua liberdade infantil, sua conquista secreta do mundo e das coisas. A bicicleta vermelha não era muito de conversar, mas às vezes percebia que ela tentava puxar assunto e então conversavam sobre a qualidade do asfalto, das lajotas, do barro e da dificuldade de andar na grama. Os assuntos da bicicleta eram só esses. Talvez nunca tivesse olhado para o céu, visto um passarinho ou um relâmpago. Talvez não tivesse nem pegado chuva.
Mais ou menos um ano depois ganhou um computador. Depois disso não conseguiu mais entender como algum dia pudera gostar de um bichinho de pelúcia estrangulador ou de uma bicicleta vermelha entediada. Com a internet ela podia conversar com todos os bichinhos de pelúcia e bicicletas do mundo, não havia limites, podia até ser criança pra sempre se quisesse. Então passou anos fixada nesse outro mundo, compenetrada, maravilhada, desencantada, feliz, triste, excitada, tudo podia acontecer agora. E ainda por cima ao mesmo tempo porque ela aprendeu a fazer muitas coisas juntas. Com o tempo, essa falta de definição fez com que esquecesse os dias da semana. Não se lembrava mais das manhãs de terça-feira ou dos domingos chuvosos. Não fazia diferença porque no computador era sempre o dia, o tempo, o clima que ela quisesse.
Foi basicamente isso que aconteceu. O bichinho e a bicicleta foram doados nessas campanhas do brinquedo, o bichinho deve ter descontado sua ira e estrangulado outras crianças, a bicicleta talvez tenha tido tempo de olhar para o céu e ter tido uma vida um pouco mais poética, enquanto a menina estrangulava e entediava a si mesma à medida que não percebia a passagem do tempo, da vida, do ciclo todo.
Talvez tenha morrido em frente ao computador. Ou tenha conhecido alguém na internet e tido filhos de verdade ou virtuais mesmo. Talvez tenha até ido ao enterro de sua avó por e-mail e comido os biscoitinhos do velório por transferência de arquivo. Não se sabe.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Papo de terça-feira de manhã
- Fabiane, aquele pássaro cidadão que você falou, tá fazendo ninho por ali...!
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
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