quinta-feira, 12 de novembro de 2009

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A palavra

é uma asa do silêncio
o fogo tem sua metade fria.


Pablo Neruda

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"...nosso único vínculo"

O fato moderno é que já não acreditamos neste mundo. Nem mesmo nos acontecimentos que nos acontecem, o amor, a morte, como se nos dissessem respeito apenas pela metade. Não somos nós que fazemos cinema, é o mundo que nos aparece como um filme ruim. A propósito de Bande à part, Godard dizia "São as pessoas que são reais, e é o mundo que se isola. É o mundo que se fez cinema. É o mundo que não está sincronizado - elas são justas, verdadeiras, representam a vida. Vivem uma história simples, é o mundo em volta delas que vive um roteiro ruim". É o vínculo do homem com o mundo que se rompeu. Por isso, é o vínculo que deve se tornar objeto de crença: ele é o impossível, que só pode ser restituído por uma fé. A crença não se dirige mais a outro mundo, ou ao mundo transformado. O homem está no mundo como numa situação ótica e sonora pura. A reação da qual o homem está privado só pode ser substituída pela crença. Somente a crença no mundo pode religar o homem com o que ele vê e ouve. É preciso que o cinema filme, não o mundo, mas a crença neste mundo, nosso único vínculo.


G. Deleuze, A imagem-tempo (O pensamento e o cinema, p. 207)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sou fã desse Bobo da corte

Quem cuida mais do dedão
Do que do seu coração
Não dormirá mais, traído
Por um calo dolorido

[Bobo do Rei Lear - Tradução de Millôr Fernandes]

Ainda em O Rei Lear...
Somos para os deuses o que as moscas são para os meninos: matam-nos só por brincadeira.

[Gloucester, ato IV]

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Atteindre son idéal, c’est le dépasser du même coup.



Friedrich Nietzsche

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Caligrafia...

Ao escrever sobre os desenhos de Rodin, Camille Mauclair indicou uma explicação para esta busca:

Os maiores artistas, Michelangelo, Rembrandt, Delacroix, todos, num determinado momento do florescimento de seu gênio, abandonaram a falácia da exatidão, como concebida por nossa razão simplificadora e nossos olhos medíocres, com o objetivo de conseguir fixar idéias, a síntese, a caligrafia pictórica de seus sonhos.



[In: A forma do filme, Eisenstein, 1929]





Auguste Rodin
Celle qui fut la belle heaulmiere
c. 1880-85
Bronze

_________________

Adoecer de nós a natureza:
- Botar aflição nas pedras
(Como fez Rodin).

Manoel de Barros

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A vida é uma ópera e uma grande ópera

Uma noite, depois de muito Chianti, repetiu-me a definição do costume, e como eu lhe dissesse que a vida tanto podia ser uma ópera como uma viagem de mar ou uma batalha, abanou a cabeça e replicou:

- A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presençca do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muito bailados, e a orquestração é excelente...


Dom Casmurro

Je veux voyager...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eu também me pergunto

o que pode haver de tão interessante no chão.

sábado, 19 de setembro de 2009

Discordo

completamente de você, Fabiane.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Macbeth

O amanhã, o amanhã, o amanhã, avança em pequenos passos, de dia para dia, até a última sílaba da recordação e todos os nossos ontens iluminaram para os loucos o caminho da poeira da morte. Apaga-te, apaga-te fugaz tocha! A vida nada mais é do que uma sombra que passa, um pobre histrião que se pavoneia e se agita uma hora em cena e, depois, nada mais se ouve dele. É uma história contada por um idiota, cheia de fúria e tumulto, nada significando.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

France Tour Detour Deux Enfants





Find the river



me, my thoughts are flower strewn
ocean storm, bayberry moon
I have got to leave to find my way
watch the road and memorize
this life that pass before my eyes
nothing is going my way




[R.E.M.]
[Paranoid Park, 2007]

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Para lá

Se toda escada esconde
Uma rampa
Ampara o horizonte
Uma ponte
Para o oriente
Um olhar
Distante

Em volta de um assunto
Uma lente
Depois de cada luz
Um poente
Para cada ponto
Um olhar
Rente

E a montanha insiste em ficar lá
Parada
A montanha insiste em ficar lá
Para lá
Parada
Parada

Diante do infinito
Um mosquito
Em torno de um contorno
Gigante
Cada eco leva
Uma voz
Adiante

Decanta em cada canto
Um instante
De dentro do segundo
Seguinte
Que só por um momento
Será
Antes

E a montanha insiste em ficar lá
Parada
A montanha insiste em ficar lá
Para lá
Parada
Parada

[música Adriana Calcanhotto, letra Arnaldo Antunes]



[Cézanne, The Lake at Annecy, 1896]

Para Merleau-Ponty, Cézanne foi aquele que primeiro mostrou o mundo tal como ele é antes de ser olhado.

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.208

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Picasso e os tempos

Pablo Picasso e Georges Braque são considerados os fundadores do movimento cubista. Curiosamente, desse movimento, os dois foram praticamente os únicos artistas que, na época, não procuraram explicar o cubismo - ambos não fizeram declarações escritas nos anos anteriores à guerra. Sendo assim, as poucas declarações de Picasso que tiveram início em 1923 estão distanciadas temporalmente daquele 1907, ano de Les Demoiselles d’Avignon, que marcaria o início do cubismo. Os textos de Picasso não dizem respeito a processos de obras específicas, são antes considerações sobre a relação entre sua vida e a arte, reflexões sobre as formas, o cubismo, a crítica, a recepção.

Para Picasso, o pecado mais falso que foi acusado de cometer é o do espírito da pesquisa. Muitos textos sobre Picasso (e sobre o cubismo) fazem referência à pesquisa: o crítico André Salmon em 1912, a respeito de Les Demoiselles d’Avignon, afirma que o quadro é a primeira aplicação das pesquisas de Picasso, que levaram longos dias e muitas noites, desenhando e concretizando o abstrato e reduzindo o concreto ao essencial (aqui a arte dos negros já fascinara Picasso e o influenciara pelo valor de deformação estética, diferente do tradicional). Em 1915, Daniel-Henry Kahnweiler define Picasso como um pesquisador fanático e traça uma trajetória temporal dessas pesquisas que teriam provado para o pintor que a forma fechada não propiciava um meio de expressão que atendesse adequadamente seus anseios. No entanto, Picasso é categórico em sua declaração: quando pinta, seu objetivo é mostrar o que encontrou e não o que está procurando. “Se em seu trabalho ele [o artista] se limitasse a mostrar que pesquisou, e pesquisou novamente, a maneira de apresentar mentiras, jamais realizaria alguma coisa”.

Partindo dessas contradições, é possível compor meios para pensar sobre as declarações de Picasso e sua obra. Primeiramente, quais foram as necessidades desse artista que o levaram a propor uma nova maneira de percepção? Essa busca é uma pesquisa ou, como Picasso afirma, essa busca não é pesquisa nem transição, mas um desejo de exprimir o que estava nele? Picasso também não considera seus diversos métodos empregados em sua arte como “evolução ou como passos na direção de um ideal desconhecido da pintura”. Tudo o que fez, segundo ele, fez para o presente e com a esperança de que continue no presente. Picasso expressa-se em cada pintura de tal modo a considerá-la acabada, pronta para um presente eterno? Também não. Um quadro terminado significa a morte: “acabar com ele, matá-lo, livrar-se de sua alma, dar-lhe o golpe final: uma situação extremamente infeliz, tanto para o pintor como para o quadro”. Sendo assim, como pensar essas obras, sempre no presente, com a fragmentação do olhar por meios da redescoberta de formas que sugerem novas percepções e múltiplas perspectivas em coalescência?

Não é no intuito de compreender que me lanço às perguntas. Picasso mesmo não via sentido no fato de todos quererem compreender a pintura: “Se ao menos compreendessem que o artista trabalha por necessidade, que ele próprio é um ínfimo elemento do mundo, a quem não se deveria atribuir mais importância que a tantas coisas da natureza que nos encantam, mas que não explicamos”. E realmente não é a compreensão ou a explicação que a pintura cubista intui. Mas a estimulação do olhar por meio de formas e objetos, causando uma profundidade que disseca o objeto, o espaço, o ser humano por todos os lados e entranhas e ao mesmo tempo. Essa necessidade de criar formas que constroem uma multiplicidade de estratos é o que conecta Picasso ao tempo. Vai além do presente para o qual ele diz fazer suas obras: ao relacionar o objeto com a percepção e criar no mesmo plano diversos pontos de vista, esses objetos contemplam a noção de temporalidade de Bergson, que propõe a experimentação do tempo em fluxos contínuos - esses fluxos não são apenas sucessões e mudanças, mas permanências no que sucede e transcorre. Para transmitir tanto a noção de duração, quanto a nova percepção colocada pelo cubismo, é preciso considerar as modalidades de tempo – passado, presente e futuro – não cronológica e uniformemente ordenadas, e sim como uma rede que torna os tempos indissociáveis e mesclados uns aos outros. A pintura de Picasso pode estar sempre no presente porque o passado não deixa de ser também presente, como a metáfora do rio no qual entramos e não entramos, estamos e não estamos. A pintura de Picasso pode estar sempre no presente porque torna contínua e simultânea a consciência e a memória. Seria a representação do tempo em fluxo contínuo a necessidade de Picasso, ao desassociar o olhar da “realidade visual” e o introduzir na plasticidade por si só?



1910 é o ano de Garota com Bandolim (Jeune Fille à la Mandoline). Esse ano é marcado na pintura de Picasso pelo rompimento com a forma fechada – “uma nova ferramenta havia sido forjada para servir a uma nova realidade”, escrevera Kahnweiler. A nova realidade não detinha os objetos e os rostos nas suas superfícies, mas permitia que fossem tangíveis à medida que as percepções visuais misturavam-se às percepções táteis conservadas na memória. A revelação das formas (nas partes do corpo, no bandolim, no fundo) incita a amplitude na contemplação, manifestando uma penetração do olhar que não era possível na imitação ilusionista. É por meio desse mecanismo que o tempo se instala, é na ousadia em multiplicar formas e temporalidades que Picasso representa seus instantes eternos.

Ainda sobre lançar-se à compreensão, Picasso escreveu: “Os que tentam explicar um quadro estão quase sempre no mau caminho. Gertrude Stein anunciava-me jubilosamente, há algum tempo, que finalmente compreendera o que representava o meu quadro dos três músicos. Era uma natureza-morta!”. Como seria uma natureza-morta, se, com o uso instável das formas, dá-se justamente o contrário? Era 1910 quando Jean Metzinger escreveu que Picasso “inventou uma perspectiva livre e móvel” e que “a forma, usada durante tantos séculos como o apoio inanimado da cor, recupera finalmente o seu direito à vida e à instabilidade”. É justamente sob a presença da vida que Picasso mantém os olhos – e propõe-se agir com a pintura, exatamente como na vida: “Faço uma janela como olho através de uma janela. Se essa janela aberta não fica bem no meu quadro, puxo uma cortina e a fecho como o teria feito no meu quarto”. Assim, a produção de Picasso segue a mobilidade do pensamento – que o permite, fora da lei acadêmica e do modelo anatômico, criar a liberdade imprevista dos movimentos. Além disso, “depois de terminado ele continua a mudar, conforme o estado daquele que o contempla. Um quadro vive sua vida como um ser vivo, sofre as mudanças que a vida cotidiana nos impõe. Isto é natural, já que um quadro só vive graças àquele que o contempla”.



Picasso apenas escreveu sobre seu modo de pintar de maneira geral, explicitando certos anseios, idéias sobre a arte, mas não especificamente sobre suas fases e transformações – afirma simplesmente que coloca nos seus quadros tudo o que ama: “Tanto pior para as coisas; tudo o que elas têm a fazer é arranjar-se entre si”. Desse modo, embora não possa aplicar efetivamente um contraponto entre as proposições do artista e a maneira pela qual essas proposições foram materializadas, fica claro o estímulo das obras de Picasso para lançar-nos a novas sensibilidades, construindo olhares capazes de reconhecer justamente na diferença com o “mundo visual”, as “verdades” do artista, a pluralidade de faces das coisas, dos objetos, dos espaços, dos rostos e até do tempo: propunha uma pintura não só com partes objetivamente visíveis, mas também com a interação da consciência... Num fluxo contínuo de criação, representação e recepção inextrincável que se modifica e se renova como o rio, como a vida.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A mise en scène

de cinema é o que não se pode ver. Tratamento dos corpos no espaço, sem gesticulação. Questão de centro, de relações: encarnada em uma deiscência, como quer a "mizankadr" eisensteiniana, em uma ocupação, uma medição febril do espaço, como em Rivette, em uma tomada de possessão mais autoritária e mais pacificada, como em Straub...

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.163

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mas o essencial,

é claro, é que o trem continua a ser o lugar prototípico onde se elabora, em pleno século XIX, o espectador de massa, o viajante imóvel. Sentado, passivo, transportado, o passageiro de trem aprende depressa a olhar desfilar um espetáculo enquadrado, a paisagem atravessada. A experiência das primeiras viagens de trem é suficientemente nova quando aparece o cinema para que, por exemplo, a descrição da experiência espectatorial no famoso livro de Hugo Münsterberg, em 1916, evoque, infalivelmente, os testemunhos de viajantes do século XIX. A similitude, no mais das vezes realçadas. vai bem longe: trem e cinema transportam o sujeito para a ficção, para o imaginário, para o sonho e também para outro espaço onde as inibições são parcialmente sanadas.

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.53




TURNER, Joseph Mallord William
Rain, Steam and Speed The Great Western Railway
before 1844

Função do olhar,

nessas nuvens e nesses arcos-íris, nessas grutas, ravinas e arvoredos, pintados em grande número por volta de 1800: se a visada é uma reprodução escrupulosa do mundo natural como teatro de fenômenos efêmeros, precisa-se aí de uma acuidade do olhar, mas também de um desejo de investigação e de descoberta. Olhar a natureza "tal como ela é", isso se aprende. A questão não é a de uma objetividade qualquer: nada mais irreal, em certo sentido, do que os arcos-íris de Constable, as nuvens de Dahl ou Delacroix, para não falar de Turner. Mas, nesse esforço para apreender, a um só tempo, o momento que foge e compreendê-lo como momento fugidio e qualquer - para se livrar do "instante pregnante"-, o que se constitui é o ver: uma confiança nova dada à visão como instrumento de conhecimento, e por que não de ciência. Aprender olhando, aprender a olhar: é o tema, também gombrichiano, da "descoberta visual por meio da arte", da similitude entre ver e compreender. O tema do conhecimento pelas aparências, que é o tema do século XIX, e o do cinema.

Jacques Aumont, O olho interminável [cinema e pintura] p.51





CONSTABLE, John
The Hay-Wain
1821

terça-feira, 28 de julho de 2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sonhos



Imagem sonho já que a palavra não é suficiente.
Quando não temos pra onde ir.
Quando a existência é insondável.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Tudo o que amo

Que triste sorte para um pintor que gosta das loiras, mas que se proíbe de colocá-las em seu quadro porque não se harmonizam com o tapete! Que miséria, para um pintor que detesta as maçãs, ser obrigado a utilizá-las o tempo todo, porque se harmonizam com o tapete! Coloco nos meus quadros tudo o que amo. Tanto pior para as coisas; tudo o que elas têm a fazer é arranjar-se entre si. (Picasso, 1935)




Picasso, Girl asleep at a table, 1936

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Não sei,

é como se fosse possível usar o silêncio para falar de tudo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Um vazio,

que é pura inquietação.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Momento num café

Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição.


Manuel Bandeira

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O imortal

Estava atirado na areia, onde desenhava grosseiramente e apagava uma fileira de sinais que eram como as letras dos sonhos, que se está a ponto de entender e logo se juntam.


J.L.Borges

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dia das mães

F: Vou fazer omelete para o almoço, tá?
E: Mas logo hoje?
F: O que que tem?
E: Hoje é dia das mães...
F: Mas o que tem a ver os ovos com o dia das mães?
E: O ovo é o filho da galinha, né.



:D

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Ao pé da letra

Enforcar-se é levar muito a sério o nó na garganta.


(Quintana)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Estrondo

De imenso que sinto
queria conseguir
um só pouco do tanto,
do tanto que respiro.

Não apenas cinemas
ou vinagres poemas:
uma espécie de lugar
de estado ou ânsia.

Como saber ser capaz
de qualquer infinita
coisa?

Explodiu o meu redor.
Senti o gosto amargo
no peito.

domingo, 15 de março de 2009

O que tem dentro?

Nervos, músculos
sangue, poesia?

Quem matou?
E a pessoa agora
sem pulso?

Quem tirou teu alimento
tua música
teu toque?

Ouve... Lá fora uma canção
que nada tem a ver contigo.

Tudo me faz lembrar-te.


Morrerei de mim.
Assassinada.
Estuprada.
Torturada.

Sem ordem
sem fim.

Diariamente...

quarta-feira, 11 de março de 2009

Soa

desleixo, desinteresse.



A sede é que está impossível.

terça-feira, 3 de março de 2009

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Aniversario na lavanderia

A vida é dura.






E por aqui vivem dizendo que o Erick parece o Obama....

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Living like a mexican

Trabalhando como mexicanos, comendo como mexicanos.

So nao dormindo porque a casa eh mesmo muito boa. O problema eh que ficamos tao cansados que nem da para aproveitar.

E tambem nao conversando como mexicanos porque nao sei uma palavrita em espanhol.

Estou morrendo aqui.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Gosto

dessas descobertas vegetarianas: Adriana Calcanhotto e Clint...

:)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

sobre O Ensaio... e a chuva




talvez a diferença esteja no fato de não estarmos ainda completamente cegos...

(ou a semelhança seja estarmos...)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O garoto dos óculos escuros

O garoto dos óculos escuros
o usa o dia inteiro
porque o sol não suporta
e as estrelas o chateiam.

Um dia lhe perguntaram,
seus colegas insistiram
e num jogo de criança
não acreditaram no que viram:
nos óculos do garoto
descobriram seu segredo:
eles eram os seus olhos,
não era um brinquedo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O menino deprimido

O menino deprimido
sabe de cor e salteado
o formato das unhas do seu pé.

Passa sempre despercebido,
e sonha noite e dia
com a moça sorriso
pra levar sua agonia
e lhe fazer um cafuné.


domingo, 23 de novembro de 2008

As cidades e os olhos

para Calvino

Quem se aproxima dessa cidade durante o dia, logo é induzido a se perguntar quanto às exaltações da noite, desenhadas nas janelas fechadas, no silêncio, no segredo e no sossego dos resquícios derramados nos caminhos agora claros.

Gilberta não é uma cidade dos pecados. Mas uma cidade onde o dia finda a vida e a noite atrai e dissimula os habitantes que preferem sonhar enquanto o sol aquece seus telhados, para que não sintam falta de serem eles mesmos, de inscrever os sentidos uns nos olhos no corpo no quintal do outro.

As janelas vão se abrindo à medida que o ar perde o brilho e o sentido implora olhares. Jogos de sedução acontecem num mergulho dentro de cada habitante: as crianças se completam na infância da noite, procurando as estações nos olhos dos cães, descobrindo a gravidade do mundo disfarçada de encantamento. As famílias atravessam a ponte, conversam alto e trocam ardores apreendendo a folia prestes a transbordar pelos poros da pele.

A noite é como uma promessa solene de viver para algo. A noite para os moradores de Gilberta é sempre mais, é um pouco mais outra coisa. Os olhos deixam de julgar e de saber para que a intenção do interior guie ao que não se pode ver, ao que pode tanto ser música quanto elegia, tanto brinquedo quanto revelia.

Antes do amanhecer, quando voltam pra casa e procuram-se no espelho, percebem-se preenchidos. A maquiagem borrada, os odores baralhados, as roupas sujas e faltando dão a certeza dos encontros, a condição para mais um dia de sono, o alento para a próxima noite de existência.

Noticiário

Falam no jornal sobre uns assassinatos coisas que logo são esquecidas é óbvio e sempre assim. Não ele nem ligava pro noticiário mas gostava de ver a boca da moça falando mexendo falando o nome dele por que não, chamando pra perto pra jantar e pra outras coisas falando... Desligou pegou uma cerveja tirou o tênis sentou no chão e ficou pensando na morte. Saiu de casa olhou para a vizinha pegou o ônibus comprou cigarro molho de tomate graxa de sapato. Andou pensando bosta de vista por que eu não ganho na loteria? Jogou no bicho voltou pra casa tomou banho.

Ligou pra filha brigou com ela mandou estudar para não ser burro e sozinho como ele. Lembrou da infância, ligou a televisão esperando a previsão do tempo. Falaram frente fria pensou nos mendigos teve pena.

Comeu macarrão fumando balançando as pernas pensando em mulher.
Sossegou, pensou nas dívidas, esqueceu-as, dormiu, sonhou com insetos, acordou comeu macarrão no café saiu pra procurar emprego ficou com raiva saiu correndo foi atropelado. Apareceu na tevê.

domingo, 16 de novembro de 2008

Gerações

Era algo constante nas manhãs de terça-feira o seu bichinho de pelúcia preferido acordá-la num processo de quase estrangulamento. Sempre despertava a tempo de tirar as patas do bicho do seu pescoço e trancá-lo dentro do armário junto com seus outros bichinhos de que gostava menos. Uma hora depois, quando ele já tinha se acalmado, ela o tirava com esforço de lá e o punha novamente em cima de sua cama. Nunca conseguiu entender qual era a desse bichinho, mas com ele aprendera a respeitar as diversas formas de vida e de temperamento, então tudo bem, ela compreendia a importância.

Se ela via televisão com ele principalmente nas quintas-feiras, ele logo dormia. Talvez fosse justamente na quinta que ele tivesse os sonhos mais perturbados e por isso precisasse dormir mais durante o dia. Era só uma suposição na cabeça dela, já que por mais que tentasse não conseguia saber o que aquele olhar queria tanto dizer. Pensava em inventar um tradutor, um decodificador, um neutralizador, um liquidificador e outras coisas que só uma criança com um bichinho de pelúcia é capaz de pensar.

Certo dia ganhou uma bicicleta. Achou mais divertido que o bichinho de pelúcia e o guardou para sempre junto com os outros de que gostava menos. A bicicleta era o sinônimo de sua liberdade infantil, sua conquista secreta do mundo e das coisas. A bicicleta vermelha não era muito de conversar, mas às vezes percebia que ela tentava puxar assunto e então conversavam sobre a qualidade do asfalto, das lajotas, do barro e da dificuldade de andar na grama. Os assuntos da bicicleta eram só esses. Talvez nunca tivesse olhado para o céu, visto um passarinho ou um relâmpago. Talvez não tivesse nem pegado chuva.

Mais ou menos um ano depois ganhou um computador. Depois disso não conseguiu mais entender como algum dia pudera gostar de um bichinho de pelúcia estrangulador ou de uma bicicleta vermelha entediada. Com a internet ela podia conversar com todos os bichinhos de pelúcia e bicicletas do mundo, não havia limites, podia até ser criança pra sempre se quisesse. Então passou anos fixada nesse outro mundo, compenetrada, maravilhada, desencantada, feliz, triste, excitada, tudo podia acontecer agora. E ainda por cima ao mesmo tempo porque ela aprendeu a fazer muitas coisas juntas. Com o tempo, essa falta de definição fez com que esquecesse os dias da semana. Não se lembrava mais das manhãs de terça-feira ou dos domingos chuvosos. Não fazia diferença porque no computador era sempre o dia, o tempo, o clima que ela quisesse.

Foi basicamente isso que aconteceu. O bichinho e a bicicleta foram doados nessas campanhas do brinquedo, o bichinho deve ter descontado sua ira e estrangulado outras crianças, a bicicleta talvez tenha tido tempo de olhar para o céu e ter tido uma vida um pouco mais poética, enquanto a menina estrangulava e entediava a si mesma à medida que não percebia a passagem do tempo, da vida, do ciclo todo.

Talvez tenha morrido em frente ao computador. Ou tenha conhecido alguém na internet e tido filhos de verdade ou virtuais mesmo. Talvez tenha até ido ao enterro de sua avó por e-mail e comido os biscoitinhos do velório por transferência de arquivo. Não se sabe.

O filme é um lugar

quarta-feira, 12 de novembro de 2008