sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Gatos e cores para os 21 anos













Obrigada, Erick :)

Tendo ao desapontamento

Segundos sussurram horas
línguas confundem
o pensamento.

Infindas combinações semânticas
explodem
e se perdem também
nos olhos.

Quem se fala? Quem se grita?

Respirar esparso
doído
como se simplesmente
não houvesse
não fosse possível
cabível
...




you want to go out friday
and you want to go forever.
you know that it sounds childish
that you've dreamt of alligators.
you hope that we are with you
and you hope you're recognized
you want to go forever
you see it in my eyes.
I'm lost in the confusion
and it doesn't seem to matter
you really can't believe it
and you hope it's getting better


Hope, R.E.M.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Capítulo belíssimo

197

Vagaram sem destino. O estômago de Rubião interrogava, exclamava, intimava; por fortuna, o delírio vinha enganar a necessidade com os seus banquetes das Tulherias. Quincas Borba é que não tinha igual recurso. E toca a andar acima e abaixo. Rubião, de quando em quando, sentava-se no lajedo, e o cão trepava-lhe às pernas, para adormecer a fome; achava as calças molhadas, e descia; mas tornava logo a subir, tão frio era o ar da noite, já noite alta, já noite morta. Rubião passava-lhe as mãos por cima, resmungando algumas palavras magras.

Se, apesar de tudo, Quincas Borba conseguia adormecer, acordava logo, porque Rubião levantava-se e punha-se outra vez a descer e subir ladeiras. Soprava um triste vento, que parecia faca, e dava arrepios aos dois vagabundos. Rubião andava devagar; o próprio cansaço não lhe permitia as grandes pernadas do princípio, quando a chuva caía em bátegas. As paradas eram agora mais freqüentes. O cão, morto de fome e de fadiga, não entendia aquela odisséia, ignorava o motivo, esquecera o lugar, não ouvia nada, senão as vozes surdas do senhor. Não podia ver as estrelas, que já então rutilavam, livres de nuvens. Rubião descobriu-as; chegara à porta da igreja, como quando entrou na cidade; acabava de sentar-se e deu com elas. Estavam tão bonitas, reconheceu que eram os lustres do grande salão e ordenou que os apagassem. Não pôde ver a execução da ordem; adormeceu ali mesmo, com o cão ao pé de si. Quando acordaram de manhã, estavam tão juntinhos que pareciam pegados.