segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sobre a forma na arquitetura

Não me oponho à forma, mas somente à forma como objetivo.
Faço-o com base em uma série de experiências e de convicções delas derivadas.

A forma como o objeto leva sempre ao formalismo.
Pois esse esforço se volta não para o interior, mas para o exterior.
Mas só um interior vivo tem um exterior vivo.

Só a intensidade da vida tem intensidade da forma.
Cada um é apoiado por uma coisa.
O amorfo não é pior do que o excesso de forma.
Um não é nada, enquanto o outro é aparência.
A forma real pressupõe a vida real.
Não algo que já foi, nem mesmo algo já pensado.

Aqui se apoia o critério.

Não julgamos o resultado, mas o princípio do processo de dar forma.
Aqui se mostra se a forma foi encontrada na vida ou em si mesma.

Por isso, para mim é essencial o processo de dar forma. Para nós. a vida é o aspecto decisico.
Em sua total plenitude, nas suas relações espirituais e materiais.

Não seria talvez uma das principais tarefa do Werkbund iluminar a situação espiritual e material
na qual estamos, torná-la visível, conferir ordem às suas correntes e então guiá-las?
Não se deve deixar todo o resto para as forças criativas?
[Por isso a questão do clássico ou gótico é tão irrelevante quanto a questão do construtivismo
ou do funcionalismo. Não estamos nem na Antiguidade, nem na Idade Média, e a vida não
é estática ou dinâmica, mas abraça ambos os aspectos]
Somente um processo de dar forma corretamente estabelecido e realizado conduz ao resultado.
Vocês julgam o resultado, nós, o princípio do processo.
Assim como é certo que o processo de dar forma se torna visível só no resultado, é igualmente
certo que um processo começado e conduzido corretamente leva ao resultado.
Não é essa a tarefa mais importante, talvez a única?
Por isso me parece mais importante avaliar a situação em que nos encontramos, torná-la visível, ordenar suas correntes e com isso guiá-las.

Queremos nos abrir à vida e tomá-la.
A vida para nós é decisiva. Na plenitude de suas condições espirituais e materiais.
Não julgamos o resultado, mas o princípio do processo de dar forma.
Aqui se mostra se a forma foi encontrada na vida ou em si mesma.
Por isso, para mim é essencial o processo de dar forma. Para nós, a vida é o aspecto decisivo.
A vida para nós é o aspecto decisivo.
Na plenitude de suas condições espirituais e materiais.
Não é essa a tarefa mais importante, talvez a única do Werkbund, iluminar a situação espiritual
e material na qual estamos, torná-la visível,
conferir ordem às suas correntes e então guiá-las?
Não se deve deixar todo o resto para a força criativa?


Die Form, 2, n. 2, 1927, pág. 59
Mies Van Der Rohe

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O Imortal

A morte (ou sua alusão) torna preciosos e patéticos os homens. Estes comovem por sua condição de fantasmas; cada ato que executam pode ser o último; não há rosto que não esteja por dissolver-se como o rosto de um sonho. Tudo, entre os mortais, tem o valor do irrecuperável e do inditoso. Entre os Imortais, ao contrário, cada ato (e cada pensamento) é o eco de outros que no passado o antecederam, sem princípio visível, ou o fiel presságio de outros que no futuro o repetirão até a vertigem. Não há coisa que não esteja como que perdida entre infatigáveis espelhos. Nada pode ocorrer uma só vez, nada é preciosamente precário. O elegíaco, o grave, o cerimonioso não vigoram para os Imortais. Homero e eu nos separamos nas portas de Tânger; creio que não nos dissemos adeus.
_O Aleph. Jorge Luis Borges.