sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Eterno sol-pôr

Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdo — a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo. Todos estes meios-tons da consciência da alma criam em nós uma paisagem dolorida, um eterno sol-pôr do que somos. O sentirmo-nos é então um campo deserto a escurecer, triste de juncos ao pé de um rio sem barcos, negrejando claramente entre margens afastadas.



_ Fernando Pessoa. Livro do desassossego.
_ Masao Yamamoto. #1530.